Os Donatistas e suas crenças
- Warley Frota
- 7 de fev.
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Atualizado: 8 de fev.

Crédito da imagem: Heberth Ventura
Esse movimento surgiu em Cartago por volta de 311 d.C., durante a perseguição de Diocleciano. Inspirado, em linhas gerais, pelo montanismo e pelo novacianismo, ele se destacou por sua rígida disciplina e oposição à indulgência das igrejas. Constantino combateu o grupo com severidade e, após sua condenação em diversos concílios eclesiásticos, promoveu uma intensa perseguição, que se estendeu com algumas interrupções ao longo do século IV. Agostinho também se empenhou contra o movimento, defendendo sua supressão.
O nome “donatistas” deriva de Donato de Casa Nigra, também conhecido como Donato Magno. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, além do fato de ter sido ordenado bispo na Numídia. Todas as suas obras e correspondências se perderam, restando apenas relatos de seus opositores.
A primeira menção histórica a Donato ocorre em 313 d.C., quando a disputa donatista foi levada a Roma. Na ocasião, um concílio presidido por Milcíades, bispo de Roma, decidiu em favor de Ceciliano como bispo legítimo de Cartago, rejeitando a liderança de Donato e seus seguidores. Esse evento marcou o início de um intenso conflito religioso na Igreja do Norte da África.
Os donatistas representavam uma ala conservadora do cristianismo na África Romana, profundamente desconfiada da aliança entre a fé cristã e o recém-favorecido Império Romano. Para eles, a pureza da Igreja era inegociável, e qualquer concessão ao poder imperial era vista como traição à fé.
Com o tempo, suas comunidades não apenas foram marginalizadas como cismáticas, mas também rotuladas como hereges. Isso se devia, em parte, à sua prática rigorosa de rebatizar aqueles que haviam renegado a fé antes de serem aceitos novamente na Igreja. Além disso, defendiam que a validade dos sacramentos dependia da integridade do ministro que os administrava. Para os donatistas, apenas membros fiéis de sua comunidade tinham autoridade para batizar, celebrar a Eucaristia ou ministrar qualquer outro sacramento. Essa visão os colocou em rota de colisão com a Igreja oficial e o Império, tornando-os alvo de intensa oposição e perseguição.
As informações doutrinárias sobre os grupos que defendiam o anabatismo (rebatismo de traidores) provêm inteiramente dos escritos de seus opositores. A principal fonte é Agostinho de Hipona, seu maior adversário. Em suas obras, encontramos respostas e correspondências sobre a controvérsia donatista, nas quais ele debate com bispos donatistas como Petiliano, Gaudêncio e Crispino, oferecendo indícios das crenças desse movimento.
Resumidamente, os donatistas sustentavam uma profunda reverência pela Bíblia, o que os levou a condenar aqueles que entregaram as Escrituras para serem queimadas durante as perseguições. Defendiam que a Igreja deveria se manifestar como uma comunidade visível composta apenas por salvos e batizados, rejeitando a inclusão de pessoas que não tivessem confessado a fé. Além disso, negavam a readmissão de cristãos que haviam apostatado, exigindo deles um novo batismo (anabatismo) como sinal de arrependimento.
Outra crença fundamental dos donatistas era a pureza da Igreja: eles sustentavam que uma congregação que aceitasse apóstatas comprovados não poderia ser considerada a verdadeira Igreja de Cristo. Como consequência, todos os atos religiosos realizados por clérigos apóstatas — como ordenações e batismos — eram considerados inválidos. Também rejeitavam o batismo infantil, pois entendiam que a fé deveria ser confessada conscientemente antes do batismo.
Essas convicções colocaram os donatistas em oposição direta à Igreja oficial, tornando-os alvo de intensa controvérsia e perseguição. Sua defesa intransigente de uma comunidade cristã pura e separada da influência imperial marcou profundamente a história do cristianismo na África do Norte, deixando um legado teológico que ecoaria em debates posteriores sobre a natureza da Igreja e a validade dos sacramentos.
Warley Frota
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É bom saber que Deus, em sua soberania, conserva a sua igreja através dos seséculos. Toda honra e glória seja dada a Deus e a Jesus Cristo seu Filho.