Quando o romance se torna armadilha: os perigos ocultos da literatura erótica
- Jair Ferreira de Almeida Filho

- 20 de out.
- 6 min de leitura
Atualizado: 28 de out.

Crédito da imagem: Heberth Ventura
É muito mais comum quando ouvimos falar de pornografia associá-la ao público masculino, entretanto existe um tipo de pornografia bem mais sutil, que pode passar facilmente desapercebida em nosso meio evangélico: a pornografia literária. Esse tipo de conteúdo tem como seu quase total público o sexo feminino. O consumo crescente desse material pode ser sutil e, por isso, mais facilmente aceitável, mas seu efeito é tão devastador na cabeça da mulher quanto a pornografia visual para o homem.
Nos últimos anos, livros de romance e fantasia com cenas explícitas, muitas vezes chamados de romances hot ou “romantasia”, ganharam popularidade entre adolescentes e jovens. Obras como Cinquenta Tons de Cinza (E. L. James, 2011) e Corte de Espinhos e Rosas (Sarah J. Maas, 2015) ocupam listas de best-sellers e circulam amplamente em redes sociais. Embora tragam narrativas envolventes, esse tipo de leitura vai além do entretenimento: pode afetar a mente, o coração e, dentro de uma cosmovisão cristã, também a vida espiritual.
Contudo, a pornografia feminina tem outro objetivo. Diferente do homem, que é atraído visualmente, a mulher é atraída pelo que ouve. As muitas histórias fantasiosas, relatos “apaixonantes” sobre um casal e aventuras atraem e envolvem não o instinto sexual como nos homens, mas envolvem os anseios das mulheres, os sentimentos e o imaginário.
Diversos estudos têm analisado os efeitos da literatura erótica em mulheres e jovens adultas. Reese-Weber e McBride (2015) observaram que mulheres que já haviam lido obras eróticas relataram níveis mais elevados de desejo sexual do que aquelas que não tinham contato com esse tipo de literatura. Da mesma forma, intervenções com leitura de ficção erótica demonstraram aumento significativo em desejo, excitação, satisfação e funcionamento sexual em mulheres com queixas de baixa libido (HURON; MARKS, 2016).
Além disso, estudos de neurociência demonstram que tanto estímulos eróticos quanto românticos ativam áreas do cérebro relacionadas ao sistema de recompensa e à dopamina (FISHER, 2003; LIU et al., 2018). Assim, mesmo sem imagens, a literatura erótica pode funcionar como forma de pornografia escrita, despertando respostas fisiológicas e emocionais semelhantes às provocadas por conteúdos audiovisuais.
Contudo, pesquisas também alertam que esse consumo pode criar expectativas irreais sobre relacionamentos, romantizando padrões de dominação, idealizando experiências sexuais perfeitas e dificultando a adaptação ao relacionamento conjugal real (SMITH; JOHNSON, 2014).
Diante do apresentado até o momento, podemos perceber que esse tipo de conteúdo não é benéfico para mulheres, muito menos para aquelas que se consideram crentes em Jesus Cristo. Se tem efeitos no corpo e na alma, quanto mais no nosso espírito, que agora vive junto com a terceira pessoa da Trindade (Espírito Santo). Na perspectiva bíblica, o consumo de literatura erótica deve ser analisado à luz do chamado à santidade. Sua atitude em relação a isso tem sido diferente do mundo?
O apóstolo Paulo exorta:
“Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro... nisso pensai.”(Filipenses 4:8)
Portanto, não podemos alimentar fantasias sexuais que descrevem relacionamentos, dentro ou fora do contexto do casamento, de forma real ou não, promovendo um imaginário impuro, diferente do que é exigido pela fé cristã.
Da mesma maneira, Jesus fala:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.”(Mateus 5:27–30)
Em outras palavras, se é pecado o fato da cobiça, por que não seria pecado o ato de imaginar outras pessoas através da leitura explícita ou outros meios (filmes, séries, novelas), ao ponto de desejar aquilo para si, ou se ver em cenas, criando cenários até mesmo com terceiros?
Para esclarecer, não é a mesma coisa que ir a um casamento e se alegrar com os noivos que se tornaram uma só carne naquele momento e desejar aquilo para si. Entretanto, alimentar o desejo romântico através de conteúdos eróticos é descumprir o que Jesus diz sobre cobiça e pureza.
Outro princípio relevante encontra-se em Cantares 8:4:
“Não desperteis nem acordeis o amor até que este o queira.”
Essa advertência fala sobre o risco de despertar desejos precoces, sem maturidade emocional ou espiritual.
Além disso, em 1 Tessalonicenses 4:3, Paulo reforça que a vontade de Deus é a santificação, que inclui a abstinência da imoralidade sexual — seja pornografia, masturbação, fornicação, adultério, entre outras formas.
Diante disso, os romances eróticos e de fantasia explícita podem ser considerados formas de tropeço espiritual, pois despertam paixões e fantasias que desviam a mente da vontade de Deus e podem influenciar negativamente a forma como o jovem compreende amor, sexualidade e casamento. Moldam sua visão de mundo para aspectos não cristãos e ajudam a fragilizar sua identidade em uma sociedade tão prejudicada por movimentos como a cultura woke, que usa a pornografia como meio de quebra de padrões, sexualização de crianças e adolescentes, além de ser um grande instrumento para pedófilos.
Para exemplificação, a seguir trazemos o testemunho pessoal de uma irmã que, em sua adolescência, por falta de cuidado e esclarecimento, entrou no submundo perigoso da fantasia erótica:
“Comecei a ler por curiosidade, sem imaginar o impacto que aquilo teria no meu coração e na minha mente. O primeiro livro foi Corte de Espinhos e Rosas, e lembro bem do famoso capítulo 55. Depois vieram outros títulos, como os contos medievais (Bridgerton) e até os contemporâneos, como Trono de Vidro. No início parecia algo inofensivo. Era apenas ‘romance’, apenas ‘fantasia’. Mas a sutileza dessas narrativas foi roubando a minha pureza pouco a pouco. Eu me entregava à leitura sem questionar, sem perceber o quanto aquelas histórias estavam moldando minhas emoções e expectativas.
Esses livros criaram dentro de mim um padrão romântico e sexual que não correspondia à realidade. Comecei a esperar encontros intensos, gestos perfeitos, sentimentos arrebatadores, como se a vida real pudesse ser um reflexo da ficção. Quando essas expectativas não se concretizavam, a frustração e o vazio vinham logo depois. Foi assim que percebi que, de maneira quase imperceptível, minha mente estava sendo bagunçada. O que parecia apenas leitura de entretenimento estava alimentando fantasias e distorcendo minha visão do que é o amor verdadeiro.
Hoje consigo reconhecer como isso me afastou da simplicidade da pureza e como precisei me reposicionar para reencontrar equilíbrio, e receber o perdão de Deus. Esse tipo de leitura me fez perder o interesse pela realidade. O relacionamento real parecia sem sentido e cada vez mais frustrante. Eu já não me comportava de forma natural, queria que a vida fosse tão prazerosa quanto aquilo que lia, mas isso nunca acontecia. Foi então que caí em si, como o filho pródigo. Eu pecava, pois, em vez de buscar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas criaturas: em mim mesma e nos outros.”— Agostinho de Hipona
“Tomei decisões ruins na minha vida durante esse período, me frustrei, entrei em quadros depressivos e buscava o prazer no lugar errado. Mas me arrependi profundamente, e Deus, em sua graça, me perdoou. Comecei a ser curada, tanto nos meus afetos quanto na minha vida espiritual. Passei a sentir prazer em servir a Deus, e Ele restaurou todas as áreas da minha vida.
Se você já experimentou esse tipo de leitura, pare enquanto ainda há tempo. Não deixe que ela destrua a sua vida real. Existem muitos tipos literários maravilhosos e edificantes, como os livros de Jane Austen, que trazem uma cosmovisão cristã. Não permita que sua mente seja corrompida.
E, por fim, deixo o testemunho do meu arrependimento: quando reconheci meu erro, chorei diante de Deus e confessei minhas fraquezas. Ele me levantou com amor, me mostrou o caminho da pureza e me fez experimentar a verdadeira liberdade. Hoje sei que só em Cristo encontro o amor que preenche, o perdão que restaura e a alegria que não passa.”
Por fim, é necessário refletir sobre alternativas literárias que edifiquem, promovendo valores cristãos e incentivando relacionamentos saudáveis, que reflitam o amor sacrificial e santo ensinado nas Escrituras. Pais, líderes e educadores cristãos devem oferecer acompanhamento e direcionamento, ajudando a juventude a compreender que o amor e a sexualidade são dádivas de Deus, mas devem ser vividos no tempo e no contexto estabelecidos por Ele.
Co-autores:
Jair Ferreira de Almeida Filho
Rute de Souza Pinheiro
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Referências
FISHER, H. Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love. New York: Henry Holt, 2003.
HURON, A.; MARKS, L. Bibliotherapy interventions for female low sexual desire: erotic fiction versus self-help. Sexual and Relationship Therapy, v. 31, n. 2, p. 179- 193, 2016.
LIU, J. et al. Cognition, emotion and reward networks associated with sex differences for romantic appraisals. Neuroscience Letters, v. 665, p. 121-127, 2018.
REESE-WEBER, M.; MCBRIDE, B. The Effects of Sexually–Explicit Literature on Sexual Behaviors and Desires of Women. Journal of Sex Research, v. 52, n. 4, p. 450-461, 2015.
SMITH, J.; JOHNSON, P. Romanticized Relationships: The Influence of Erotic Fiction on Young Adults. Journal of Adolescent Research, v. 29, n. 6, p. 718-737, 2014.
A BÍBLIA. Tradução Almeida Corrigida Fiel.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Preferida pelo público feminino, literatura “hot” tem as mulheres como protagonistas. Jornal da USP, São Paulo, 11 ago. 2023.




Que benção esse artigo!
Há uma exortação bíblica em Rm12:2, que significa não se moldar aos padrões e influências negativas do mundo ao redor, sugestivamente a transformação deve ocorrer pela renovação da mente para que se possa experimentar a vontade de Deus.
Deus cuide desta nossa geração!