Os Novacianos e suas crenças

Crédito da imagem: Heberth Ventura

Pouco se sabe sobre a vida de Novaciano, mas sua influência se destacou em meados do terceiro século. Erudito e habilidoso escritor, foi o teólogo mais proeminente de Roma em sua época e um dos primeiros a utilizar o latim em seus escritos teológicos, em vez do grego, que era mais comum entre os cristãos primitivos.

Apesar de seu nome estar frequentemente associado ao cisma e à heresia, essa reputação decorre mais das circunstâncias históricas do que de falhas em sua teologia. Suas convicções doutrinárias, assim como as de Montano e Tertuliano, mantinham-se em grande parte dentro da ortodoxia cristã. Seu pensamento rigoroso e sua defesa da disciplina e da pureza da Igreja marcaram profundamente o cristianismo do período, influenciando debates que perduraram por séculos.

Durante a severa perseguição sob o imperador Décio (250-251 d.C.), um decreto imperial exigiu que todos os habitantes do império se conformassem ao culto pagão. Após quatro décadas de relativa tolerância, o cristianismo havia se expandido consideravelmente, mas muitos de seus adeptos estavam despreparados para enfrentar tamanha provação. Com a imposição dos éditos de Décio, as igrejas foram duramente afetadas: multidões apostataram, enquanto outros foram martirizados por sua fé.

Após dois anos, a perseguição diminuiu, e muitos dos que haviam negado sua fé buscaram ser readmitidos na comunhão cristã. Para fortalecer seus pedidos, alguns chegaram a apresentar cartas de recomendação escritas por cristãos eminentes que haviam sofrido por sua fé. No entanto, o retorno desses apóstatas gerou grande controvérsia. A flagrante negação da fé por alguns despertou forte oposição à sua readmissão, enquanto outros argumentavam em favor da restauração dos arrependidos.

A Igreja Romana dividiu-se sobre a questão. A maioria, contando com o apoio dos bispos e igrejas tanto do Oriente quanto do Ocidente, defendia uma abordagem mais branda, permitindo a reconciliação dos faltosos. Novaciano, por outro lado, sustentava uma posição mais rigorosa, exigindo evidências de arrependimento genuíno e o rebatismo daqueles que haviam negado sua fé. A controvérsia acentuou as tensões dentro da igreja, resultando em disputas que envolviam não apenas doutrina, mas também questões pessoais e eclesiásticas.

Muitas críticas foram dirigidas a Novaciano e seus seguidores ao longo da história. Eles foram acusados de excessiva rigidez na disciplina e de rebatizar membros de outras comunidades cristãs. Além disso, rejeitavam a veneração das relíquias dos mártires e não atribuíam qualquer virtude especial a elas, o que gerou forte oposição por parte da Igreja majoritária.

Apesar dessas controvérsias, Novaciano mantinha uma crença firme na continuidade das operações sobrenaturais do Espírito Santo. Em sua obra mais significativa, seu tratado sobre a Trindade, ele defende o ministério sobrenatural do Espírito com as seguintes palavras:

“É ele (o Espírito Santo) que coloca os profetas na igreja, instrui os professores, orienta as línguas, concede poderes e cura, realiza maravilhas, oferece o discernimento dos espíritos, confere poderes de governo, sugere conselhos e organiza vários outros dons que fazem parte dos charismata; fazendo assim com que a Igreja do Senhor se esmere e se aperfeiçoe em todo lugar, com seus membros.”[1]

Warley Frota

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[1] HYATT, E. L. 2000 Anos de Cristianismo Carismático : um olhar do século 21 na história da igreja a partir de uma perspectiva carismático-pentecostal / Eddie L. Hyatt ; tradução de Rafael Resende ; revisão de Eliana Moura. – Natal, RN : Carisma, 2018.

GIESBRECHT, B. Guardando a fé. Publicadora Menonita, Goiás, 2007.

MUIRHEAD. H. H. O cristianismo através dos séculos. Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, Vol.1, 3º edição, 1951.